Afinal em Inglaterra, na terra de Sua Majestade, a Rainha Isabel II, também há grandes bullfights.
Com o Brexit, a situação tende a agravar-se, assim como as tensões sociais numa sociedade profundamente dividida e a caminho do caos.
Não é só por causa da enorme divisão da comunidade inglesa, mas também pelas ondas de choque que provoca na Escócia, no País de Gales e na própria Irlanda do Norte (Back Stop).
Estas regiões estão claramente contra a saída do Reino Unido da União Europeia e estão em pré-pânico caso não haja um acordo negociado com os povos europeus.
Boris Johnson, qual Rambo, já decidiu sair da União Europeia sem acordo a partir de 30 de outubro. Contra tudo e contra todos, incluindo os mais de 20 deputados do seu partido Conservador, que acabaram por ser expulsos.
A decisão tomada pelo Supremo Tribunal de Justiça, considerando ilegal a suspensão do Parlamento, seguindo um parecer que um tribunal de primeira instância da Escócia já havia determinado, vem confirmar a fragilidade jurídica e política em que Boris Johnson mergulhou o Reino Unido.
Também o Partido Trabalhista não tem facilitado a vida aos ingleses. Profundamente dividido entre os que querem o segundo referendo e os que querem sair, o seu líder sempre defendeu uma saída ordenada do reino Unido. Nunca quis ficar na União. Só os Liberais Sociais é que ergueram com ambas as mãos a bandeira da Europa.
Boris Johnson, que perdeu 20 deputados, entre os quais um irmão, parece ter sido talhado para encarnar as personagens trágicas do poeta inglês William Shakespeare, nomeadamente Macbeth. Será que ele tal como Macbeth também se cruzou nas estradas perdidas da Cornualha com três bruxas que anteciparam o seu assassínio ou, neste caso, o seu prematuro fim político.
Agora todos os partidos da oposição, sustentados pelo veredicto unânime tomado pela mais alta instância jurídica do Reino Unido, exigem eleições antecipadas. Mas os casos não acabam. Em cada esquina parece haver sempre uma nova armadilha pronta a deixar os britânicos à beira de um ataque de nervos.
Daqui, deste simpático recanto da Europa, continuamos a assistir impotentes ao desenrolar da tragédia britânica, sempre à espera de novas touradas que nunca pensámos poderem existir em tão elevada escala nos territórios de Sua Majestade. Bem podem os ingleses suspirar pelo seu hino: God save de Queen. Eu diria God save the People.
Miguel Almeida Fernandes