Terminamos mais um ano que foi difícil e que nuvens negras continuam a pairar no horizonte. Vivemos tempos perigosos em que alianças e pactos pareciam solidamente consolidados e que agora nos damos conta que tudo está em xeque. De súbito, o mundo parece ter ficado de pernas para o ar. E o mais preocupante é que esse mundo foi virado de avesso pelos nossos principais aliados.
Comecemos pelo Brexit, ou seja, a saída do Reino Unido da UE com a provável declaração de independência da Escócia seguida de uma eventual fusão das duas Irlandas, lançando Inglaterra num verdadeiro sarilho sem fim à vista. Sarilho não só económico financeiro e fiscal, mas também de cariz político e social.
Os ingleses, em vez de avançarem para a globalização, dão enormes passos no retrocesso da sua integridade territorial, dando uma machadada final do que ainda restava do seu império.
A Europa com ou sem Brexit parece ir resistir a este embate agora sobre um eixo Paris-Berlim que continua a ter presente o que foram os terrores do século passado ao terem eclodido duas guerras mundiais em solo europeu. Tal facto parece felizmente impor um certo bom senso e não deixar o continente resvalar para o caos. Mas esta via está repleta de perigos e obstáculos ao virar da esquina com a implosão de populismo extremos que apregoam regressar aos nacionalismos e às fronteiras territoriais.
Mas este mundo louco não se fica pela Europa. Também a Aliança Atlântica, com a presidência de Donald Trump, parece estar mais dividida do que nunca.
Como disse Emanuel Macron, numa análise muito pragmática sobre a aliança, a Nato está em morte cerebral.
Não é só a guerrilha promovida pelo presidente dos Estados Unidos contra os seus aliados da Nato com a exigência de aumentar as contribuições financeiras dos estados membros para a organização, como há países que dificilmente conseguem engolir a Turquia na Nato. País islâmico, com ligações a grupos radicais e que se tem aproximado de forma preocupante da Rússia de Putin. Vamos ver se os países da Nato se conseguem entender e manter o princípio de que um ataque a um dos Estado membros é um ataque a todos.
Compete ainda à Nato definir a estratégia face à Rússia, o combate ao terrorismo islâmico e como se posiciona frente ao crescente expansionismo militar chinês no pacífico sul.
Last but not least temos o emergir do gigante asiático: com um poderoso crescimento interno económico as relações entre a China e os Estados Unidos atravessam uma fase muito atribulada. Desde a guerra comercial entre ambos até ao aspeto militar e à situação escaldante de Hong Kong nada é tranquilizador nos mares do pacífico.
Paralelamente prossegue o processo de destituição do Presidente Trump que não se sabe como irá acabar.
Esperemos que 2020 devolva aos políticos o bom senso que deve sempre orientar a quem tem responsabilidades de dirigir nações.
Miguel Almeida Fernandes